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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Parte III

"Se tu vens, por exemplo, ás quatro da tarde,
desde as três eu começarei a ser feliz."


- Que quer dizer "efêmera"?
- Quer dizer "ameaçada de desaparecer em breve".
- Minha flor está ameaçada de desaparecer em breve?
- Sem dúvida.
"Minha flor é efêmera", pensou o pequeno príncipe, "e não tem mais que quatro espinhos para defender-se do mundo! E eu a deixei sozinha...". Esse foi seu primeiro gesto de remorso. E o principezinho partiu, pensando na sua flor.
(...)
Era um jardim cheio de rosas. Ele as contemplou. Eram todas iguais á sua flor. Ele sentiu extremamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ela era unica de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim! Depois ainda refletiu: "Eu me julgava rico por ter uma flor única, e possuo apenas uma rosa comum. Isso não faz de mim um príncipe poderoso..."
E, deitado na relva, ele chorou.
(...)
Depois a raposa acrescentou:
- Vai rever as rosas. Assim, compreenderás que a tua é única no mundo.
O pequeno principe foi rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais á minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras, mas eu a tornei minha amiga, agora ela é única no mundo. Sois belas, mas vazias. Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela que eu reguei. Foi ela que eu escutei se queixar ou se gabar, ou mesmo calar-se algumas vezes, já que ela é minha rosa.
E voltou então, á raposa:
- Adeus... - disse ele.
- Adeus - disse a raposa.
- Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos - repetiu o principezinho, para não se esquecer.
- Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que a fez tão importante.
- Foi o tempo que perdi com a minha rosa... - repetiu ele, para não se esquecer.
- Os homens esquecem essa verdade - disse ainda a raposa. - Mas tu não deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para não se esquecer.

Parte II

"Eu deseja ver um pôr do sol...
Fazei-me esse favor.
Ordenai ao sol que se ponha..."


Aprendi esse novo detalhe quando me disseste, na manhã do quarto dia:
- Gosto muito de pôr do sol. Vamos ver um...
- Mas é preciso esperar...
- Esperar o quê?
- Esperar que o sol se ponha.
Tu fizeste um ar de surpresa e , logo depois, riste de ti mesmo. Disseste-me:
- Eu imagino sempre estar em casa!
De fato. Quando é meio-dia nos Estados Unidos, o sol, todo mundo sabe, está se pondo na França. Bastaria poder ir á França num minito para assistir ao pôr do sol. Infelizmente, a França é longe demais. Mas no teu pequeno planeta, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E, assim, contemplavas o crepúsculo todas as vezes que desejavas...
- Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e quatro vezes!
E logo depois acrescentaste:
- Quando a gente está muito triste, gosta de admirar o pôr do sol...
- Estavas tão triste assim no dia em que contemplaste os quarenta e quatro?
Mas o principezinho não respondeu.

Parte I


"Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para fazê-lo feliz quando a contempla. Ele pensa: "Minha flor está lá, em algum lugar..."



Sempre houvera, no planeta do pequeno príncipe, flores muito simples, ornadas de uma só fileira de pétalas, e que não ocupavam espaço nem incomodavam ninguém. Apareciam pela manhã, na relva, e a á tarde já murchavam. Mas aquela brotara um dia de uma semente trazida não se sabe de onde, e o principezinho resolvera vigiar de perto o pequeno broto que era tão diferente dos outros. (...) mas a flor parecia nuncaacabar de preparar a sua beleza, no seu verde aposento.
(...)
Eis que, numa manhã, justamente á hora do sol nascer, ela se mostrou. E ela, que se preparara com tanto esmero, disse bocejando:
- Ah! Eu acabo de desespertar...Desculpa... Estou ainda despenteada...
O principezinho, então, não pôde conter o seu espanto:
- Como és bonita!
- É verdade - respondeu a flor docemente. - E nasci ao mesmo tempo que o sol...(...) Creio que é hora do café da manhã - acrescentou ela. - Tu poderias cuidar de mim...
E o principezinho, atordoado, tendo indo buscar um regados com água fresca, molhou a flor. Assim, ela logo começou a atormentá-lo com sua doentia vaidade.
(...)
O principezinho, apesar da sinceridade do seu amor, logo começara a duvidar dela. Levara a serio palavra sem importância, e isto o fez sentir-se muito infeliz.
- Não devia tê-la escutado, não se deve nunca escutar as flores. Basta admirá-las, sentir seu aroma. A minha perfumava todo o planeta, mas eu não sabia como desfrutá-la. Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas suas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava, Não podia jamais tê-la abandonado. Deveria ter percebido sua ternura por trás daquelas tolas mentiras. As flores são tão contraditórias! Mas eu era jovem demais para saber amá-la.
(...)
Creio que ele se aproveitou de uma migração de pássaros selvagens para fugir. (...)
E quando regou pela ultima vez a flor e se preparava para colocá-la á redoma, percebeu que tinha vontade de chorar.
- Adeus - disse ele á flor.
Mas a flor não respondeu.
- Adeus - repetiu ele.
A flor tossiu. Mas não era por causa do resfriado.
- Eu fui uma tola - disse finalmente. - Peço-te perdão. Procura ser feliz.
A ausência de censuras o surpreendeu. Ficou parado, completamente sm jeito, com a redoma nas mãos. Não conseguia compreender aquela delicadeza.
- É claro que eu te amo - disse-lhe a flor. - Foi minha culpa não perceberes isso. Mas não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Tenta ser feliz... Larga essa redoma, não preciso mais dela.
- Mas o vento...
- Não estou tão resfriadada assim...
- Mas os bichos...
- É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão belas! - Em seguida, acrescentou: Não demores assim, que é exasperant. Tu decidiste partir. Então vai!
Pois ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muito orgulhosa...