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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Untitled 10

Eu caminhava por essa rua sombria através de uma multidão que seguia no sentido contrário ao meu. Olhei para o relógio como se me interessasse saber as horas, mas na verdade, usei o gesto para me distrair da monotoneidade que era caminhar por alí. Nada me intrigava, a não ser um pequeno fiozinho dourado de sol que ia diminuindo aos poucos a medida que o grande muro de pedras o encobria. Um sopro em meus ouvidos: minha pele em tom de repulsa, anunciava a chegada do vento que dançava em volta de meu corpo, me entorpecendo, me fazendo congelar. Cruzei meus braços para tentar me aquecer, mas numa tentativa fracassada. Entenda, era Maio, somente alguém tão estúpido quanto eu para esquecer um agasalho em um mês como esse. O escuro da noite engolira cada gota do doce céu azul de outono. Ja se podia notar uma enorme quantidade de vaga-lumes piscando pelo manto negro (ou seriam estrelas?). Tentando não pensar no frio, continuei a minha caminhada sem sentido. Ja não haviam mais calçadas. Somente ruelas as quais davam acessos a tantos outros becos. Uma vez ou outra, notava olhares curiosos vindos de janelas entreabertas. Crianças descalças pulavam e sorriam em torno de um grupo de meninos que jogavam bolinhas de gude. Sem se preocuparem com nada, olhavam aquelas pequeninas esferas de vidro. Pra muitos, sem sentido. Mas pra eles? Ah, eram cristais que se chocavam continuamente, de um valor inimaginável. Desviei o olhar tentando lembrar a ultima vez que algo tivesse significado tanto pra mim. Quanto mais fechava meus olhos e me esforçava, menos me recordava. Resolvi abrí-los, mas ja havia pisado numa poça d'água que se encontrava logo a frente. Talvez eu devesse parar e xingar o mundo com palavras horrendas e dizer o quanto aquele mísero punhado de água havia estragado a minha noite. Mas pensando bem, a única coisa no qual realmente tive certeza naquele momento, é de que meus pés e pernas se encontravam tão imensamente frios quanto os meus braços. Mais um sopro, mais um sussurro. O vento havia tirado o dia pra me testar. Sentei-me á beira de um banco aos pedaços que se encontrava próximo á um parque. Silencioso, exceto por um balanço, que insistia em ranger a medida que o sopro da noite incidia sobre ele. Meus pensamentos acompanhavam seu rítmo lento e contínuo, assim como meu coração. Rangendo, lento, contínuo... Mesmo que frio, em um lugar qualquer, num tempo qualquer, ainda batia, ou ao menos tentava. Ja era tarde. Logo acima, fitei-os novamente: os vaga-lumes (ou seriam estrelas?). Fiz um pedido, mas ja nem me lembro qual...
(Raphaela Sacchi)

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